Comunidade ou plateia?
Na Grécia antiga, era no chão batido, no calor do corpo ao lado, que a tragédia se armava.
Não havia distância entre o ator e o público, porque todo mundo ali sabia que uma história bem contada, quando ecoa certo, mexe até com quem achava que só estava assistindo.
Comédia era permissão. Drama era reflexo
A comédia não era riso fácil , era a permissão de zombar do rei, de si mesmo, da vida.
O drama não era espetáculo, era reflexo da desgraça coletiva, cantado para que ninguém enlouquecesse sozinho.
O público chorava junto porque sabia que, mais cedo ou mais tarde, viveria algo parecido.
Plateia era pertencimento
Aquela arena não vendia ingresso. Vendia pertencimento.
E quem se sentava ali voltava diferente por ter sentido que a dor do outro podia caber também na sua pele.
Hoje, o nome mudou. O propósito, não
Hoje, chamam de audiência. Seguidores. Visualizações.
Mas o que se perdeu foi o gesto de levantar e dizer: eu tô aqui com você, mesmo quando a história embaraça, mesmo quando a máscara cai.
Plateia assiste. Comunidade sustenta
Plateia é quem olha.
Comunidade é quem segura a próxima fala quando você esquece a sua.
Plateia vai embora quando a cortina fecha.
Comunidade te ajuda a montar o palco de novo, se for preciso.
Ser ouvido é bom. Ser amparado, essencial
A diferença é que numa plateia você é protagonista por duas horas.
Numa comunidade, você é necessário, até nos bastidores.
O teatro já sabia
Ninguém atravessa a dor sozinho.
É por isso que, no fim, os atores não se curvavam à frente do palco por vaidade.
Era agradecimento.
Por terem sido ouvidos, sim.
Mas principalmente, por não terem ficado sós.